Neste momento de angústia política, em que se torna evidente uma razoável divisão ideológica no país, faz-se necessário chamar os intelectuais. Não importa se de direita ou esquerda, se de centro ou não. É deles a palavra que se exige, que precisa ser ouvida.
O resultado do trabalho de um intelectual é constituído de ideias. Não as prescindamos. Adam Smith ou Karl Marx nunca gerenciaram nada, produziram ideias.
Em magnífica obra – ’Os intelectuais e a sociedade’-, Thomas Sowel sintetiza: ’Inteligência menos julgamento é igual a intelecto.
Temos também a sabedoria, que é a qualidade mais rara de todas, a qual se verifica na habilidade de combinar intelecto, conhecimento, experiência e julgamento, de forma a produzir uma compreensão ou avaliação coerente.
A sabedoria é a realização da antiga advertência: em posse do que tens, tenhas compreensão’.
Nunca se precisou tanto das ideias, do pensamento racional, como nestes tempos em ’terraebrasilis’.
A convocação das universidades, das academias de letras, dos institutos de pesquisas, se faz necessário.
O entendimento do que se avizinha tem como pressuposto o discernimento científico, portanto, acadêmico.
Um país de instituições estáveis é um país de riquezas humanas, e as temos, podem apostar.
O momento exige profunda reflexão. Acaso divididos, a certeza da caminhada se dará elegendo cérebros que nos guiem para fora da turvação da consciência.
Não se trata de colocar panos frios na peleja, mas pelejar pelo crescimento e união.A sustentabilidade da democracia está a exigir paciência e moderação.
Chamem os bombeiros de crise, seu gerenciamento é precioso. A retórica machadiana de ’Suje-se Gordo’ deve, agora, sofrer uma releitura para ’suje-se gordo de sabedoria e comiseração’.
Vale a lição de Hannah Arendt (A Vida do Espírito),’podemos concluir que nossos padrões comuns de julgamento, tão firmemente enraizados em pressupostos e preconceitos metafísicos – segundo os quais o essencial encontra-se sob a superfície e a superfície é o superficial -, estão errados; e a nossa convicção corrente de que o que está dentro de nós, nossa vida interior, é mais relevante para o que nós somos do que o que aparece exteriormente não passa de uma ilusão; mas quando tentamos consertar essas falácias, verificamos que nossa linguagem, ou menos nossa terminologia, é falha’.
É o conjunto do ser que se apresenta como essência, um todo que construímos e que se revela na alteridade;e, quando defrontamos com o outro (pensamento e ideal), nos reconhecemos, sem antes projetarmos a consciência em desilusões e tristezas.
Aqui precisamos ser tratados, humanamente tratados, com o remédio dado a gotas, com precisão cirúrgica, eleitas pelos intelectuais, imortalizados (de sua luz somos bronzeados) pelo estudo acadêmico.
Com Santo Agostinho ficamos, há um abismo no bom coração e no mau coração – ’As emoções são gloriosas quando permanecem nas profundezas, mas não quando vêm à luz e pretendem tornar-se essência e governar’.
Por que buscar enfraquecer-se? As lutas fratricidas só trazem ódios e irracionalidades. Evitemo-las, pois!
Elevemos os sentimentos para a construção. O Brasil, gigante, sempre vale a pena! É por aí…
Gonçalo Antunes de Barros Neto é professor universitário, magistrado, membro fundador da Associação Poetas del Mundo em Mato Grosso e cronista.