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Afinal, a conduta pessoal importa ou não para a política?

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Os valores morais e as condutas pessoais estão cada vez mais expostos em nossa sociedade. Nestas eleições, uma das primeiras declarações da grande maioria dos candidatos, independente do cargo pleiteado, foram justamente de cunho particular: fé em alguma religião e a família tradicional como base.  

           
Como todos nós, candidatos ou não, somos seres humanos, com históricos de vida diferenciados, e como os jogos políticos costumam se assemelhar a lutas de “vale tudo”, não demora para que algumas condutas que possam ser moralmente criticadas venham à tona, a fim de favorecer algum candidato concorrente.
           
Embora os valores pessoais sejam amplamente valorizados em nossa sociedade, as denúncias de fatos considerados imorais ou ilegais são, ao mesmo tempo, rechaçadas pela população. Considerando que vivemos num estado burguês – e portanto liberal (tendo em vista a separação do que seja público e privado) -, laico, mas ao mesmo tempo com público religioso bastante amplo, fica a dúvida: Afinal, a postura pessoal dos candidatos importa ou não?
           
Este ano, pude observar esse conflito nos processos eleitorais nacional, estadual e também do Sindicato do qual estive à frente por 3 anos e que primeira vez em seus vinte e dois anos, houve, também, o segundo turno.
            
A prática de acusações infundadas, de desrespeito a ética e a democracia em detrimento da colocação de propostas de melhorias para o fortalecimento das instituições representativas, em todos os níveis, deve ser, impreterivelmente, condenada. No entanto, acusações graves que ferem os direitos legais como agressão a mulher, pedofilia, dirigir embriagado, preconceito racial e de gênero, homofobia e xenofobia poderão ser debatidos no mesmo patamar, a exemplo, da corrupção? Ou devem ser ignorados? Essas condutas afetam a população como um todo, ou só um núcleo privado, diferentemente da corrupção e, portanto, não interessam?
           
Volto a afirmar que informações caluniosas e difamatórias devem, inclusive, ser investigadas pelas autoridades competentes, mas de antemão, já defendo que tudo deve ser, no mínimo, esclarecido para a população interessada. Da mesma maneira, quando há vinculação de instituições a escândalos ou denúncias, tudo deve ser amplamente esclarecido, visto que o trabalho realizado de maneira honrada e os serviços prestados em benefício, em especial, dos trabalhadores, não deve ser esquecido.
           
Entendo que as condutas pessoais não podem ser ignoradas em nenhum momento, seja a pessoa pública ou não. Muito embora um mandato não seja de uma só pessoa, mas de um partido, de uma equipe cujo quadro de pessoal compõe profissionais das mais diversas áreas e de diversas regiões, mas o pensamento e o temperamento do “chefe” pode influenciar no desenvolvimento das políticas públicas e até mesmo do controle social. Além disso, a nossa cultura patriarcalista não só nos leva a personalizar a política, mas legitima a ação individualizada da pessoa pública.
           
Enquanto isso, outras questões individuais que realmente não interessam porque, teoricamente, não poderão intervir numa política laica – e que na verdade seriam ilegais, de acordo com nossa legislação –, como as práticas religiosas, acabam sendo tão influentes que elegem ou não candidatos e acabam influenciando sim as políticas públicas.           
           
Tenho a impressão de que os avanços de alguns ideais progressistas de liberdade e igualdade em todo o mundo, com direitos conquistados pelas chamadas “minorias” implicaram, em contrapartida, no endurecimento dos ideais conservadores. Assim, na prática, relativiza-se o que importa ou não e condena-se posturas contrárias, o que prejudica a consolidação da nossa democracia. Um exemplo seria a agressão a mulher, já que no pensamento conservador a mulher ainda é colocada num papel de submissão. Denúncias desse tipo não merecem ser esclarecidas? Os autores não merecem ser condenados?    
           
E então, caro leitor, o que você acha deste cenário conflituoso em que nos encontramos? Devemos considerar e julgar as ações individuais dos nossos representantes nas políticas públicas ou sindicais? Ou depende? Você também não acha que já está mais do que na hora da gente, pelo menos, refletir essas questões?

*Alzita Ormond é presidenta do Sindicato dos Servidores Públicos da Saúde e do Meio Ambiente de Mato Grosso (Sisma/MT) e professora especialista em Saúde Pública e em Epilinguistica

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