O corte histórico aconteceu em 13 de junho do ano passado. Parecia ser mais uma manifestação de jovens baderneiros da classe média, brigando por míseros 20 centavos de aumento na tarifa de ônibus.
As redes midiáticas de propriedade conservadora rechaçou logo o movimento, colocando-o como ação de inconsequentes e com pouco apoio popular.
Mas algo havia de estranho no ar, não mais que de repente, a população de São Paulo, do Rio de Janeiro e por cópia as de outras capitais, saíram às ruas e gritava um sonoro não a classe política brasileira.
Quem não foi nas passeatas apoiou e nossos pseudos representantes viram-se encurralados, buscando respostas para dar a população nas ruas.
Devido à imensidão das manifestações que repudiava o poder executivo, o legislativo, o judiciário e o próprio sistema capitalista, houve um recuo da mídia e dos políticos, reconhecendo a legitimidade das manifestações.
O movimento legitimado era preciso buscar sua liderança, mas havia algo estranho no ar. Não havia líder, não havia ninguém com capacidade ou liderança capaz de negociar com os pseudos representantes políticos.
O Brasil sempre visto como um país pacífico, cristão e controlado, de repente explodiu como um vulcão extinto e com labaredas que queimaram as gravatas e ternos de muito grã-fino encastelado em gabinetes políticos.
Os manifestantes pediam melhoria na educação, saúde, transportes públicos, fim da corrupção, mudança na atuação das polícias, contra a FIFA, e como disse um cartaz em Cuiabá: “São tantas as reivindicações que não cabem num só cartaz”.
Não podendo ir contra as massas, a mídia aliada aos políticos procurou buscar os bodes expiatórios para o movimento. Encontraram nos Black Bock a forma nefasta de acabar com o movimento, ao carimbá-los com arruaceiros, baderneiros e destruidores de nosso patrimônio, o joio dentro do trigo das manifestações.
A raiva de muitos de ver um bando de ladrões praticando o crime de colarinho branco, sempre e todos os dias, buscando meios escusos para levar para casa ou para o exterior o dinheiro público, foi manipulada ao ver as cenas dos Black Bock quebrando os símbolos do capitalismo, como os bancos e concessionárias de veículos.
A população, no entanto, não consegue ver que está todo dia sendo dilapidada por gatunos de ternos que não fazem nada mais que pensar 24 horas com tirar dinheiro ilegal do povo brasileiro. Mas a sua maioria não enxerga os meandros da política, não lê jornais, não faz referências de fatos e muitos são alienados, juntamente com aqueles que direta ou indiretamente estão envolvidos com as mutretas políticas, mas a culpa toda virou contra os coitados dos Black Bock.
O que mudou de lá para cá foi que não parou o movimento de repulsa as ações governamentais, seja no âmbito do governo federal, estadual ou mesmo municipal pelo Brasil afora.
Todo dia olhamos na mídia protestos e mais protestos, em algum momento chegamos a ter um protesto a cada três dias, virou moda protestar.
O que parecia um gigante dormindo em berço esplêndido virou um Ogro incomodado, às vezes taciturno e em outras, a frente de movimentos sociais ligados aos sem tetos, aos professores, aos sem terras, e em muitas outras manifestações que continuaram intermitentes.
O que restou de tudo isso? Quase nada até agora. Mas a classe politica treme de medo a cada dia, ao se aproximar o 5 de outubro próximo. As pesquisas de opinião falam de quase 25% da população com uma arma assustadora, que pode melar a frágil democracia de mercado, que compra a legitimidade eleitoral através do dinheiro sujo em cada eleição.
A quase 4 meses das eleições de 5 de outubro um grupo assustador, que representa um quarto dos votos válidos, não esqueceu ainda que o “modus operandi” dos políticos não mudou, apenas evoluiu no caminho do mal. Esse quarto eleitoral pensa em votar em branco ou anular seu voto. Se Você for fazer as contas do número de brasileiros, menos os aptos a votar, menos esse um quarto, verá que a próxima eleição não terá a famosa maioria de representatividade e os eleitos vão representar no máximo a si mesmos.
Pedro Felix é escritor em Cuiabá.