Nos últimos anos Sinop apresentou um crescimento acentuado, deixando de ser uma cidade pequena (menor que 100 mil habitantes), passando a ser considerada média (entre 100 mil e 500 mil habitantes), pela classificação do IBGE. Tal crescimento reflete-se diretamente na frota de veículos e em todo tipo de problema relacionado ao trânsito. Como a região que concentra os órgãos públicos, principais lojas do comércio, agências bancárias entre outros pontos de interesse permanece a mesma, os problemas de trânsito se concentram nestes locais, dentre estes problemas estão dificuldades com a fluidez, aumento do índice de acidentes e falta de vagas para estacionamento. Nesta oportunidade discutiremos principalmente a questão da falta de vagas para estacionamento e possíveis soluções.
A falta de espaço para estacionamento se dá principalmente pela deficiência de planejamento no desenvolvimento de uma cidade ou região, sendo responsáveis, além do poder público que deixou de cobrar atitudes dos construtores, os próprios proprietários dos estabelecimentos que não previram espaço para estacionamento de seus funcionários e clientes no interior de seus terrenos. Depois de consolidado o comércio nestas microrregiões, cobra-se que o poder público assuma toda responsabilidade e encontre soluções para este problema.
Depois do problema instalado pode-se resolvê-lo de duas formas distintas: criando novas vagas para estacionamento ou otimizando o uso das existentes. A criação de novas vagas fica limitada a existência de espaço público para tal, este espaço deve ser pensado para propiciar uma mobilidade eficiente e sustentável para o maior número possível de pessoas, por isso, nem todo o espaço das vias deve ser destinado ao estacionamento, o privilégio no planejamento deve seguir a seguinte ordem: espaço seguro e acessível para os pedestres; espaço preferencial para os meios de transporte coletivo de massa, no caso do município de Sinop os ônibus coletivos; condições seguras para o transporte individual não motorizado (bicicletas); garantia de fluidez no tráfego, já que é essa a principal função das vias públicas e depois espaço necessário para estacionamento.
A otimização do uso das vagas de estacionamento pode ser conseguido de diversas formas, mas de modo geral devem-se oferecer outras opções de mobilidade que não o transporte individual motorizado, fomentá-las e incentivá-las através de programas que envolvam as instâncias públicas e privadas interessadas.
O estacionamento rotativo pago é uma das medidas adotadas em diversas cidades. A principal crítica a este sistema é que ele não cria novas vagas, somente limita uma parcela da população a usar este espaço público, inevitavelmente a parcela com mais restrições econômicas. A adoção deste modelo se da devido, principalmente, a obrigar as pessoas que utilizavam o estacionamento a encontrar outras maneiras de se deslocar até estes locais, principalmente funcionários e proprietários de estabelecimentos comerciais da região, porém vejamos, se conseguirmos que estas pessoas utilizem meios alternativos para este deslocamento, não seria necessário adotar o estacionamento rotativo pago e onerar as pessoas na utilização do espaço público. Portanto o sucesso desta medida se encontra em oferecer opções de transporte para reduzir a ocupação do espaço existente de estacionamento. Apresentarei a seguir três medidas que podem resolver o problema de forma mais definitiva e sustentável.
A primeira medida e que pode ser aplicada a curto prazo é o programa chamado carona solidária que já é adotado em diversas cidades, ele consiste em organizar as pessoas que se deslocam de origens próximas e para o mesmo destino a seguirem num mesmo veiculo. Estatísticas nacionais apontam que a ocupação média dos automóveis esta em torno dos 1,3 passageiros por veiculo, quando a maior parte pode transportar até 5 pessoas. Se conseguíssemos que cada pessoa que fosse com seu veiculo para a região central de Sinop levasse mais um ou dois passageiros reduziríamos a ocupação permanente das vagas de estacionamento para menos da metade.
Outra medida possível seria o apoio ao uso do transporte coletivo, este já abrange todas as regiões da cidade e o incremento de seu uso aumentaria a demanda, fazendo com que a empresa disponibiliza-se novas linhas e horários. Dentre as possíveis políticas para aumentar o uso do transporte coletivo estão o oferecimento de vale-transporte aos funcionários por parte dos proprietários dos estabelecimentos comerciais; cobrança para que o poder público exerça uma fiscalização mais efetiva e exija que a empresa ofereça tantas linhas e horários quanto forem necessários, bem como ofereça um serviço com a qualidade que atraia os usuários; e estabelecer em conjunto com a empresa que opera o transporte coletivo estratégias de publicidade e facilidades em seus serviços que atraiam novos usuários, em alguns municípios são oferecidos aplicativos para smartphones que indicam o tempo para chegada do próximo ônibus, mapas interativos que auxiliam os usuários a se localizarem no sistema, dentre outros.
Devemos ainda incentivar o transporte não-motorizado (bicicletas), uma vez que Sinop reúne todas as condições para a difusão deste modal, temos um terreno plano, vias largas o suficiente e já tivemos a cultura de uso da bicicleta que hoje esta em decréscimo, num primeiro momento pode-se utilizar este modal de forma compartilhada com o fluxo de automóveis, como já é feito por centenas de sinopenses, mas, para assegurar a continuidade desse uso é preciso investir em infra-estrutura que já demandaria um prazo um pouco maior.
De forma mais definitiva, o que poderia ser adotado como futuro para a mobilidade em Sinop seria a integração entre estes dois últimos modais tratados, incentivando as pessoas a fazerem parte do seu trajeto de bicicleta e o restante no transporte coletivo. Para viabilizar esta integração é necessário oferecer além da qualidade no transporte coletivo, locais adequados para o estacionamento das bicicletas, estes locais seriam pequenos terminais com bicicletários cobertos e segurança adequada, permitindo que as pessoas pudessem ir trabalhar sem preocupação com o seu bem.
Em resumo temos medidas de curto prazo, como o uso da carona compartilhada, do transporte coletivo e uso da bicicleta; de médio prazo, como melhoria do transporte coletivo e de médio a longo prazo, como oferecimento de infra-estrutura cicloviária e condições para integração inter-modais que controlariam a demanda por estacionamento na região central, possibilitando não gerar mais um ônus para a sociedade em geral com a cobrança de estacionamento.
Com o empenho de todos os setores da sociedade, especialmente da sociedade organizada e entusiastas de nosso município podemos transformar nossa cidade em modelo de mobilidade urbana sustentável, e este momento de dificuldade para os comerciantes do centro do município pode ser o estopim para o início dessa nova visão do trânsito sinopense.
Cristiano Soares – acadêmico de Engenharia Civil da Unemat e Guarda Municipal de Trânsito