Se por acaso você falar nesse momento que a política é uma droga certamente terá uma pouco de razão no que diz, pois as notícias de que existe na Câmara Municipal de Cuiabá quem defenda o narcotráfico não é de todo equivocada (e dá prá dizer que isso é uma droga).
Mas o fato não é novo (infelizmente).
Nas eleições municipais de 2008 havia um candidato a vereador em Cuiabá que mantinha alguns cabos eleitorais dentro do Presídio Central (Pascoal Ramos). Seus "correligionários" (uns soltos, outros presos) eram monitorados por interceptação telefônica (grampo). Isso permitiu que fosse realizada a prisão em flagrante de alguns membros da quadrilha quando praticavam um assalto a uma empresa, inclusive utilizando veículo com os adesivos do tal candidato.
Pois bem.
O candidato foi eleito, mesmo respondendo a muitos processos de crimes eleitorais, mas é certo que a Justiça Eleitoral não "teve tempo" de julgar o dito cujo! Fez um péssimo mandato.
Ainda bem que o político foi ejetado do poder por outros modos (e não voltou mais) embora ocupe agora um luxuoso cargo de assessor no condomínio mais caro de Mato Grosso, a Assembléia Legislativa. Se abrigou exatamente naquele "residencial" que torra por ano mais de meio bilhão de reais do contribuinte, para manter os seus vinte e quatro condôminos e assessores.
Mas e agora, com a denúncia criminal oferecida pelo Ministério Público, de que o presidente da Câmara Municipal da Capital manteria ligação com barões do narcotráfico em mercancias de decisões judiciais, qual será a reação de seus pares? Merecerá o povo de Cuiabá conviver com mais esse fantasma no armário? E o debate sobre os temas de relevância, tais como o trânsito, as escolas, a Copa do Mundo e a regularização fundiária, ficam para quando?
Tudo bem que estamos recebendo revelações de que no quesito "amizade com juiz prá se dar bem" o prefeito de Cuiabá parece ser bem entendido (vide relação de Mauro Mendes com membros do TRT). Mas com que autoridade os vereadores vão fiscalizar o executivo se na sua própria casa reside impune o malfeito (e o malfeitor)?
Tudo isso, a nosso ver, parece ser exatamente o resultado de um processo político viciado, com agremiações partidárias sem ideologia, que se transformam em balcão de interesses (já nas convenções para escolha dos candidatos). A lei eleitoral e o processo político como um todo acabam permitindo essas distorções da Democracia, com a eleição daqueles que gastam muito, abusam do poder político e econômico, mas no mandato esquecem do povo e fazem a defesa dos interesses dos barões que os financiaram.
Por isso, a lei de iniciativa popular de reforma política, liderada pelo MCCE, pela OAB e pela CNBB, entre outras cinquenta entidades, precisa merecer o apoio popular.
Se a Câmara Municipal de Cuiabá não cortar esse mal pela raiz, permitir que um vereador que responda a acusação de defender o narcotráfico exerça livremente o mandato, perde um chance de mostrar que existe alguma utilidade para o vereador.
Na próxima vez que você ver um menor viciado em "crack", andando na rua feito um "zumbi", aterrorizando a vizinhança e criando insegurança à sua família, lembre-se que o traficante possui relações políticas fortes que o mantém na ativa.
Antonio Cavalcante Filho e Vilson Nery são ativistas do MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral)