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Missão humanitária

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Diplomacia é o ofício de unificar propósitos políticos internacionais, buscando soluções razoáveis no sentido de conciliar os múltiplos interesses das nações. Mas, sobretudo, tem o diplomata a obrigação de zelar pela soberania de seu país, reagindo com coragem e determinação toda vez que as cores da bandeira nacional estiverem ameaçadas de uma grave ofensa.

Pois bem, ao tratar com desdém o pedido de salvo conduto para um asilado político na Embaixada brasileira em La Paz, o governo boliviano maculou o relacionamento com o nosso país.

Portanto, a decisão do senhor Eduardo Sabóia, representante dos negócios brasileiros na Bolívia, de empreender uma missão de refúgio do senador Roger Pinto Molina para nossa terra foi providencial e heróica. Principalmente, porque o parlamentar asilado já apresentava um quadro de instabilidade emocional e de profunda depressão.

Além do mais, há relatos de que as ameaças contra a integridade física do senador boliviano eram constantes. Neste sentido, há que se reconhecer a ação meticulosa e decisiva do senador Ricardo Ferraço, presidente da Comissão de Assuntos Exteriores do Senado, que ajudou no planejamento e na retirada de Roger Molina de La Paz, acolhendo-o, como a um irmão, em solo brasileiro.

Este episódio deve ilustrar, doravante, uma das mais belas páginas da história de nosso corpo diplomático, tanto pela astúcia, quanto pela solidariedade a um parlamentar perseguido em seu país, pela simples condição de oposicionista ao regime vigente.

Ricardo Ferraço honrou as mais profundas tradições democráticas do Senado brasileiro, ao auxiliar na elaboração de um empreendimento de tanta coragem cívica e respeito às liberdades individuais. Pois, não podemos considerar tal tarefa como uma mera intromissão nos interesses de outra nação. Foi sim, um rasgo de lucidez e decência humanista, pois o asilo político já havia sido solicitado para a Embaixada brasileira há mais de um ano e as autoridades bolivianas simplesmente não expediam o salvo conduto por mera retaliação.

 

Vale ressaltar que o senador Molina estava abrigado em condições precárias na representação brasileira há 455 dias. Segundo informação do próprio diplomata Eduardo Sabóia, o governo boliviano já havia sugerido uma fuga do parlamentar para uma solução mais rápida para o impasse que constrangia os dois países.
O Brasil falou alto. Deixou claras as suas posições democráticas. Fez bradar um grito de liberdade… Um aviso aos tiranos: aqui, nesta nação, funcionam as instituições. Elas não se vergam aos interesses de caudilhos e déspotas.

Lamentavelmente, a presidente Dilma Rousseff não compreendeu desta forma e exonerou o ministro Antonio Patriota, sob alegação de quebra de hierarquia no Itamaraty. Porém, o funcionário Eduardo Sabóia agiu no cumprimento de seu dever humanitário; segundo ele, não necessitando de uma prévia consulta aos seus superiores. Além do mais, tratava-se de uma missão urgente e, de certa forma, com um grau de sigilo.

Esta missão valeu pela coragem, honradez e espírito público com que todos os funcionários da Embaixada conduziram esta tarefa humanitária.

 

Jayme Campos é senador da República

 

 

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