Após um mês da vinda do papa Francisco ao Brasil, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro, é tempo de refletirmos sobre suas mensagens.
Sem dúvida, muitos lembrarão a imagem da praia de Copacabana repleta com mais de três milhões de pessoas de dezenas de países unidas em oração. Outros guardarão a visão de sua presença serena ao lado de autoridades assustadas e perplexas com o vulto das manifestações populares então em curso. Recordarão suas palavras diretas e objetivas, em contraste com cansativas e rebuscadas perorações oficiais. Das inúmeras falas pronunciadas pelo papa nessa viagem, cada qual escolherá suas favoritas, mas considero que tão importantes quanto as palavras de um líder, são as suas atitudes e exemplos. Para que uma mensagem tenha credibilidade, é preciso que haja coerência entre o falar e o agir.
Assim, nesta visita, a imagem que mais me impactou foi a de Francisco sentado no banco de trás de um carro que não era luxuoso, retido num engarrafamento no centro do Rio, cercado pela multidão, com o vidro da janela aberto, sorridente, cumprimentando as pessoas que se aproximavam surpresas.
Sejamos sinceros. Tirando o período eleitoral, são poucas as autoridades nesse país que andam com as janelas do carro abertas.
Ao contrário, muitas se escondem em luxuosos veículos blindados, com vidros escuros, isso quando não utilizam helicópteros públicos até para pequenos trajetos de rotina.
A imagem a que me refiro marcou pelo contraste entre a simplicidade e serenidade de um papa, que quando cardeal em Buenos Aires fazia seus percursos de metrô, e a arrogância de alguns dirigentes cada vez mais distantes do sentimento das ruas. Francisco demonstrou que não tem medo do povo, porque não tem o que temer. Ao contrário, mostra que devemos buscar estar próximos da realidade social para melhor compreendê-la e nela intervir positivamente.
A janela aberta pode ser um símbolo do que Francisco deseja para sua Igreja: menos luxuosa e mais simples, menos centrada em Roma e mais atenta às periferias do mundo. Em uma entrevista, já no avião que o conduziu de volta à Itália, falando com compaixão e humildade, Francisco abriu outras janelas, para as mulheres e os homossexuais. Nas suas mensagens aos jovens, o papa enfatizou a importância de uma participação ativa na vida política das comunidades, destacando que as comunidades religiosas devem manter suas janelas e portas abertas para todos. Por outro lado, foi firme na condenação às drogas, denunciando os mercadores da morte.
Para a maioria católica do Brasil, mas também para as dezenas de milhões de brasileiros que não são católicos, o papa Francisco deixou a mensagem de um verdadeiro cristão: simples, sereno, simpático, sensível e humano. Um cristão com a janela do seu carro aberta, para ver o mundo e para ser visto, para tocar e ser tocado, para ouvir, para cheirar, para sentir e para amar.
Luiz Henrique Lima – auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT. Graduado em Ciências Econômicas, Especialização em Finanças Corporativas, Mestrado e Doutorado em Planejamento Ambiental, Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia.