A advocacia que vivi nos últimos anos não é um mero ofício corporativo ou banal meio de vida: é inspiração, combatividade e, principalmente, exemplo
Nestes 80 anos de Ordem dos Advogados, é preciso relembrar grandes figuras da advocacia mato-grossense. Gente cuja vida pendulava entre o ofício público ou provado de advogar e o magistério. Porque, no princípio, ser advogado era necessariamente dedicar-se também às aulas, já que a responsabilidade social de multiplicar conhecimento é uma das máximas da profissão. Aliás, na maioria das vezes, o advogado que se dedicava à sala de aula pagava do próprio bolso para seguir com o ofício catedrático. O desapego, naquela época, moldou gerações de brilhantes profissionais que podem testemunhar o passado. Alunos das turmas inaugurais, devem ser festejados como os colegas Benedito Pinheiro de Campos, Egídio de Souza Neves, Eliseu Cerisara, Lacyra Santana, Luiz Beni Maia, Agenor Ferreira Leão, Elpídio Gonçalves Presa, dentre outros.
Começo pelo Dr. Prof. Clóvis de Melo e Dr. Prof. José Ferreira de Freitas, acadêmicos de letras e advogados ilustres, Dr. Amaral Augusto da Silva, Prof. Dr. Aníbal Bouret, Dr. Vicente Bezerra Neto, Dr. Hugolino Corbelino, Dr. José Feliciano de Figueiredo; Dr. Salvador Pompeu de Barros, nosso expressivo representante junto ao Tribunal de Justiça; Prof. Dr. Benedito Pedro Dorilêo, ex-reitor da Universidade Federal de Mato Grosso, Dr. Domingos Monteiro da Silva, ex-Procurador Geral do Estado; decanos do quilate do Dr. Luiz Alfeu Ramos, Dr. Odilzon das Neves Graus, ex-diretores da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Mato Grosso, Dr. Benedito Flaviano, Dr. Milton Pompeu de Barros, Dr. Prof. Gervásio Leite, Dr. Sebastião de Oliveira, Dr. Prof. Benedito Sant"Ana Silva Freire, Dr. Prof. Alcedino Pedroso da Silva (primeiro diretor da reaberta Faculdade de Direito, em 1956), Dr. Manoel Ourives e Dr. Orlando Ourives, e o grande jurista Dr. Palmiro Pimenta que, em 1934, fundou o primeiro núcleo de ensino jurídico em Mato Grosso, depois a Faculdade de Direito, em 1952. São esses e muitos outros que se misturam por muitas épocas, alguns muito vivos e atuantes, que merecem todas as homenagens.
Dos presidentes da Ordem dos Advogados do Brasil, merecem particulares saudações os fundadores Dr. Salvador Celso de Albuquerque, Dr. Ernesto Pereira Borges, Hélio Pimenta Ribeiro, além de outros já citados. Foram tempos nos quais a advocacia era uma atividade nobre repleta de personalidades inatacáveis e que a função dirigente da classe representava integral doação. A OAB que enfrentou a ditadura e ajudou a conduzir o país à redemocratização, denunciando a corrupção de um ex-presidente da República deve ser lembrada não com saudosismo, mas como exemplo a nos inspirar para o futuro. A plataforma da Ordem dos Advogados não pode ser o autoelogio perpétuo, porque o exemplo ético ainda é uma carência social que precisa voltar à pauta da instituição.
Vai aqui o demorado abraço ao meu querido amigo e professor já falecido Carlos Antônio de Almeida Melo, advogado e depois Procurador do Estado, um dos responsáveis pelo texto da Constituição do Estado de Mato Grosso, um homem brilhante: erudito, poliglota, debochado e inveterado fumante. Este tem um canto especial no coração. A advocacia que vivi nos últimos anos não é um mero ofício corporativo ou banal meio de vida: é inspiração, combatividade e, principalmente, exemplo. Foram meus inspiradores, os professores da segunda ou terceira geração de causídicos mato-grossenses, dignos de respeito e carinho o Dr. Fábio César Guimarães, Dr. Ulysses Ribeiro, Dr. Raimar Bottega, Dr. Marcos Prado, Dr. José Célio Garcia, todos advogados e hoje colegas e amigos.
No dia do advogado, 11 de agosto, gostaria de exortar toda comunidade jurídica mato-grossense a abraçar os pais pelo domingo dedicado a eles. E, com a sabedoria dos mais velhos, relembrar dos grandes advogados, tribunos que brilharam noutras décadas cuja memória deve nos emocionar. Ouçamos as vozes do passado de célebres oradores nacionais como Ruy Barbosa, Ernesto Carneiro Ribeiro, Sobral Pinto, Evandro Lins e Silva, Evaristo de Morais, Pontes de Miranda, Pedro Lessa. Saibamos como os advogados colmataram a república democrática no Brasil. E, em Mato Grosso, façamos que este dia dure oitenta anos!
Dispensamos política partidária e adulações despropositadas. As autoridades já tem o panteão de fotografias e são lembrados por méritos institucionais. A Ordem dos Advogados deve ser mais humana e promover uma série de artigos em jornais para divulgar a trajetória da advocacia e do ensino jurídico mato-grossense, abrindo-se à sociedade, dialogando com a própria memória, muito além do cerimonial. O sopro do passado, leitores e colegas advogados, é a tragada de oxigênio que nos mantém vivos. Parabéns à advocacia mato-grossense pelo Dia do Advogado e pelos 80 anos de combate em prol do estado democrático de direito.
Eduardo Mahon é advogado em Cuiabá