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De Mizael a Francisco

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"Caso duas pessoas lutem com igualdade de técnica, sendo que para cada ataque existe uma defesa, qual será o deslinde da luta? A prevalência da força, do pensamento, da emoção, do ódio ou do amor"

Para cada ataque existe uma defesa, dizem os professores; para cada questionamento, uma resposta; para cada pensamento, uma emoção. Os canais de TV digladiaram-se na tarde de 13 de março de 2013, entre a transmissão de amor e ódio.

Na sala de espera do consultório médico ontem – já não fosse suficiente ir ao médico, ainda sujeito à tortura da espera – a secretária se virou para mim e disse: "Que ódio deste cara, olha como é cínico!" Convenhamos ser uma frase de impacto. Agora, some-se a isto toda a emoção que esta senhora colocou na ênfase da frase. Neste momento passei a prestar atenção na TV, precisava comentar a frase a mim dirigida.

O cara era Mizael. O que passava na rede de TV era o julgamento dele pelo Tribunal do Júri, ao vivo! Não tenho muito conhecimento do caso, jurídica ou televisivamente, mas meu sentimento em relação ao caso é o de que o advogado fez uma opção errada ao concordar com o julgamento exposto na TV. Para mim Mizael já entrou no plenário condenado.
Pois bem, voltamos ao sentimento da atenciosa senhora do consultório. Ela sente "ódio" e julga-o cínico! De onde ela o conhece? Será que cruzou com ele em alguma esquina famosa de São Paulo cantada em uma música? Teria ela algum parentesco com a família da vítima? É muito provável que ela somente o conheça do noticiário mesmo. Enfim, ela o odeia e o qualifica pelo cinismo! Assim, Mizael já entrou julgado, condenado pelos sentimentos que o caso despertou.
E Francisco, qual teria sido o comentário daquela senhora caso fosse outro o canal de TV selecionado? Que o Papa é muito velho e a escolha dos cardeais foi errada; que não gostou do jeito dele? Ou qual seria a graça de tantas milhares de pessoas acompanhando a eleição de um ser humano tão mortal quanto qualquer outro paradas na chuva e frio em frente à Praça de São Pedro?
Explicar sentimento e emoção diante de fatos apresentados com tamanha proximidade e esta enorme distância é tarefa difícil, nem mesmo me aventuro a tentar. Então, mantenho-me atenta ao simples campo da observação.
Mizael representava nos veículos de comunicação o vilão, que merecia uma pena a altura, afinal, "ficou demonstrado que ele matou por ciúme" e que sua "crueldade era incalculável". Nos apaixonamos tanto pela tese que a senhora do consultório passou a odiar aquele ser humano!
E o Papa? O Papa é amoroso, sensível, paciente, bondoso, querido! Transmite paz pelo seu semblante, simpatia e humanidade nos fatos de ser torcedor de futebol. O que é tudo isto? Meu sentimento ao conhecê-lo após ser escolhido.
Sentimento é o resultado de um pensamento. De um pensamento julgador. Eu parti da premissa de que o Papa é bom, e só vivenciei doces sentimentos! A secretária julgou que Mizael é um ser desprezível e só vivenciou sentimentos negativos.
Ódio é um sentimento muito intenso, a frase "eu odeio" balança até mesmo o ser humano mais frio. Naqueles momentos de fragilidade até parece que o ódio é maior que o amor. De tudo o que foi dito resta apenas perguntar: Caso duas pessoas lutem com igualdade de técnica, sendo que para cada ataque existe uma defesa, qual será o deslinde da luta? A prevalência da força, do pensamento, da emoção, do ódio ou do amor.

Sandra Cristina Alves é bacharel em Direito e Analista do Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso

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