Desafios das empresas para nova década
* Reinaldo do Carmo de Souza
O universo das empresas brasileiras deverá ser profundamente sacudido nos próximos anos por um crescente quadro de incertezas, como consequência de toda uma rápida, e às vezes tumultuada, transição de uma visão da sociedade dualista para uma realidade (política, econômica, social e tecnológica). A dor provocada por esta incerteza vai se manifestar na considerável ambiguidade que deverá permear as relações da sociedade e todo o comportamento das empresas, empresários e seus gestores.
O sucesso empresarial estará muito dependente de algumas prioridades, tais como uma forte ação no sentido de profissionalizar a propriedade antes de simplesmente preocupar-se com a administração.
Definir claramente qual é a vocação da empresa e a razão da sua própria existência serão fundamentais para permitir um processo de consolidação e crescimento ordenado mais estratégico. Uma mentalidade voltada para a maior qualidade dos produtos e serviços será vital para o sucesso das empresas. A vinculação entre serviços agregados aos produtos vai aumentar. Os programas de produtividade deverão ganhar importância, mas devem ser acompanhados de sistemas que estimulem a participação. Esta participação não ocorrerá apenas como forma motivacional, mas também ao nível da remuneração e dos próprios sistemas de administração.
As estruturas serão enxugadas ao máximo, reduzindo-se consideravelmente os níveis hierárquicos. Estas medidas serão tomadas procurando aproximar a decisão das ações, criando com isto maior nível de comprometimento com os resultados. Haverá maior flexibilidade na utilização dinâmica de sistemas centralizados e descentralizados, o que vai exigir dos executivos muito mais mudanças de postura do que simples compreensão da estrutura organizacional.
Os responsáveis pela gestão executiva das empresas devem estar atentos para a necessidade de ampliar a sua habilidade de intensificar, e até mesmo priorizar, (especialmente na média gerência) os relacionamentos horizontais, entre seus pares do mesmo nível hierárquico.
Na relação vertical, com seus colaboradores, deverão surgir novas necessidades decorrentes de conflitos oriundos da própria sociedade. Questionamentos de outras instituições, como: família, governo, igreja, partidos políticos, sindicatos etc., deverão permear as relações hierárquicas da empresa.
A relação capital/trabalho deverá receber maior atenção dos executivos. Não será apenas, uma questão de macetes de negociação, mas muito mais de compreensão do papel e de todas as responsabilidades e ele inerentes. O gerente deverá assumir o papel de representante do capital, procurando antecipar-se no atendimento de reclamações que possam assumir o caráter mais amplo e tornarem-se pontos polêmicos de extensas e desgastantes pautas de reivindicações.
Reinaldo do Carmo de Souza é professor na Universidade de Cuiabá