Sempre que nos assombrassem as achegas trazidas pelos últimos acordes do ano, ou os anúncios do Armagedom, ou até mesmo as auroras ou crepúsculos de cada instante, dever-nos-íamos refletir, conversar, discutir.
Não a discussão dos que gritam até quando escrevem, dos que impostam a voz com queixos arqueados acima da linha horizonte até quando mentem, dos que fitam o infinito enquanto falam até com seus filhos ou dos que têm a eterna certeza até quando perguntam, enfim… não dos que têm almas aflitas e corações distantes.
Precisamos apenas da fala mansa, como a do apaixonado que sussurra qualquer coisa carinhosa ao pé do ouvido, dos que, como diria Padre Léo, mantêm próximos os corações e não precisam de megafone para serem ouvidos.
Fiquemos atentos, entretanto, aos gritos quase sempre silenciosos dos excluídos, pois que eles já não têm vez e nem voz na nossa mídia oligarquizada e também não podem contar mais com muitas das vozes que antes clamavam por eles, cooptadas que foram pelo conforto vazio do dinheiro fácil e que traz com ele o sucesso efêmero e a sensação fugaz e irreal de que, na vil posse dele, já fazem parte da elite predadora.
E é exatamente nesse ponto que devemos concentrar parte das nossas reflexões, pois é incrível capacidade que têm as elites de arregimentar os incautos que alcançaram algum sucesso financeiro ou na carreira.
Bastam apenas algumas festas regadas com bons vinhos, carrões estacionados à porta, um convite para integrar a maçonaria e três rodadas de poker… pronto! O cara, que, até ontem, era branco pobre, negro, excluído, maltratado e discriminado, passa a se achar membro honorário do Instituto Millenium.
Então, aproveito mais este aparente ponto de inflexão em nossas vidas, com a chegada de um novo ano, para propor-lhes uma atenta análise do céu de Munch, com suas cores vivas e expressivas, tanto capazes de nos lembrar da angústia e da dor alheias como capazes de nos fazer senti-las também.
Feliz 2013!
Adamastor Martins de Oliveira – engenheiro e Advogado em Cuiabá
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