Muitas pessoas, inclusive estudiosos, pesquisadores , analistas de fama, jornalistas ou até mesmo pessoas "comuns" imaginam que quando um país ou região experimenta um processo intenso e acelerado de crescimento econômico todas as mazelas sociais, econômicas, políticas como a fome, a miséria, a marginalização social, a exclusão e a corrupção, entre outras, desaparecem.
De forma semelhante fomos ensinados ao longo de décadas que o processo de desenvolvimento, particularmente o crescimento econômico, gera ou contribui para a mobilidade ascendente, ou seja, pessoas e grandes camadas populacionais melhoram de vida, passam a ter acesso a inúmeros bens de consumo e jamais voltarão às condições e níveis de vida experimentados anteriormente ou que seus pais tiveram.
Em parte tudo isto é verdadeiro, mas precisamos ter em mente que as crises do sistema econômico capitalista, a inflação, o desemprego, a recessão e a estagnação econômica e a corrupção também acontecem com uma frequência muito maior do que observamos e seus reflexos acabam empurrando grandes parcelas da população para uma situação crítica.
Outro aspecto que nem sempre é destacado no processo de crescimento econômico, tanto nos países subdesenvolvidos, em vias de desenvolvimento ou mesmo dos atualmente desenvolvidos é que o sistema capitalista é baseado no lucro, na especulação financeira, na concentração de renda, de riqueza e oportunidades, na geração de um elevado contingente de desempregados, subempregados, na burla aos direitos dos trabalhadores e dos consumidores, na sonegação de tributos, na corrupção, na degradação ambiental e no aparelhamento do Estado por grupos e partidos que defendem os interesses econômicos enfim, gerando um processo que acumula riquezas em poucas mãos e exclui a grande maioria da população dos frutos ou benefícios deste processo.
A injustiça , a desigualdade e desrespeito aos direitos e dignidade das pessoas são as faces de todas as mazelas antes mencionadas como pobreza , miséria, fome, violência e exclusão social, econômica, cultural e política são inerentes ao processo de desenvolvimento capitalista, já que o modelo socialista/comunista acabou falindo nos países que o experimentaram por quase um século como a ex-União Soviética, a China, Cuba e a Coréia do Norte, por exemplo.
Estudos recentes de organizações internacionais como a ONU, o Banco Mundial, a OECD (Organização Econômica dos países europeus), inúmeras universidades de vários países, ONGs e várias outras instituições vêm apontando que mesmo entre os países desenvolvidos da Europa, do G7, do G20 (integrado pelas 20 maiores economias do planeta) ou dos BRICs, demonstram que em tais países, com raras exceções, os pobres estão ficando mais pobres e os ricos mais ricos. A concentração de renda e riqueza, medidos pelo índice de gini e pela distância de renda entre a camada dos 10% mais ricos de cada país e a camada dos 10% mais pobres tem aumentado.
A OXFAM, uma organização que articula uma rede de 17 outras organizações não governamentais e que está presente em 90 países tem alertado governantes, empresários e a sociedade em geral quanto aos riscos que esta exclusão acarretará ao futuro de bilhões de pessoas. De forma semelhante em seu último forum realizado em Davos, a OECD destacou que os dois maiores desafios que os países têm que enfrentar no momento são a corrupção e a desigualdade econômica e social.
Voltarei a este tema oportunamente com alguns dados estatisticos recentes que fundamentam esta análise, principalmente sobre países do G20 que em conjunto são responsáveis por mais de 70% do PIB mundial.
JUACY DA SILVA, professor universitário, mestre em sociologia, colaborador de Sonoticias. Email [email protected] Twitter@profjuacy Blog www.professorjuacy.zip.net