O Trem da FERRONORTE e o Trem Urbano VLT são, de longe, as duas maiores obras da História de Mato Grosso, estratégicas para os próximos 50 anos. O seu megatamanho se deve tanto à sua importância, quanto ao volume de recursos públicos necessários, profundamente impactantes na vida de todos nós matogrossenses, sobretudo nós cuiabanos. São cifras que chegam à casa dos bilhões. Muitos bilhões!
VLTrem é um neologismo para mostrar a importância e a interrelação do TREM com o VLT!!! A paixão que nos move em direção a estes assuntos deve ter em contrapartida uma dose triplicada de responsabilidade.
Gastos bilionários serão necessariamente feitos nesses dois projetos e nas obras da Copa 2014. Décadas de orçamento federal, estadual e municipal estão comprometidos. De onde sairão os recursos para arcar com investimentos de tal envergadura? E como fazer isso sem comprometer outras áreas fundamentais, como educação, saúde, saneamento, meio ambiente, cultura, energia, estradas, segurança e incentivos econômicos?
Ora!!! O VLT, que sem dúvida alguma, mudará o perfil de mobilidade na Região Metropolitana Cuiabá-Várzea Grande, demandará custos bilionários em seu financiamento, manutenção e subsídios das passagens. O sistema deverá ainda ser integrado aos ônibus convencionais, micro-ônibus e talvez a um ou mais BRT"s Regionais. Também terão de ser inclusas as gratuidades, necessariamente diluídas nas planilhas de custo. O VLT, em princípio, terá como "fonte de recursos" as passagens pagas, o que dará conta, pelo menos nas primeiras décadas, apenas da manutenção do sistema e do lucro das operadoras. E o restante, como ficará? Serão duas ou três gerações envolvidas neste empreendimento. Não é razoável acreditar no número colocado por técnicos a serviço do governo, que falam em custos da passagem do VLT em R$ 1,70. Absurdo! O custo será muito maior.
O Trem da FERRONORTE chegando a Cuiabá, projeto histórico da República Federativa do Brasil, reafirmado por LULA em seu primeiro governo e confirmado por DILMA quando ainda ministra, redimensionará a economia mato-grossense e também a cuiabana, confirmando nossa tendência presente de recordes de crescimento, reforçando-a para o futuro. Serão bilhões poupados em custos de transportes, que em grande parte poderão ser usados também para pagar os investimentos do legado da Copa 2014, entre outros.
Portanto, o Trem da FERRONORTE é necessário para custear o Veiculo Leve sobre Trilhos (VLT). Não é preciso ser economista para concluir que, todos os custos do VLT e da Copa 2014 terão de ser honrados pelo dinheiro do contribuinte, sendo necessárias "fontes de recursos" volumosas e duradouras.
Está na imprensa que o Trem da FERRONORTE não chegará a Cuiabá. O recém lançado Programa de Investimentos em Logística do Governo Dilma, que prevê investimentos em ferrovias no valor de R$ 56 bilhões em cinco anos e de mais R$ 35 bilhões em 25 anos (totalizando R$ 91 bi em 30 anos), simplesmente exclui o trecho Rondonópolis-Cuiabá, e cria uma nova ferrovia, a FICO (Ferrovia do Centro-oeste), partindo de Lucas do Rio Verde rumo a Goiás, chegando aos portos do Sudeste. Tanto a FICO quanto a FERRONORTE são importantes na construção de uma integrada malha ferroviária em nosso estado. No entanto o que não podemos aceitar é o fato de cerca de 600 Km em solo matogrossense, com Cuiabá no meio, ficar sem ferrovia; algo similar à distância entre Cuiabá e Campo Grande que é de 700 Km. Do ponto de vista econômico, significa que os produtos que saem e chegam à Baixada Cuiabana e à Planície Pantaneira (maior centro consumidor do estado), continuarão dependentes do transporte rodoviário, aumentando custos e tempo de transporte, diminuindo assim nossa competitividade.
Porém, o mais grave, e é só observar no mapa os novos traçados propostos, é que do ponto de vista geopolítico, o que se enxerga é uma clara divisão econômica de Mato Grosso, excluindo dos trilhos do desenvolvimento a maior parte das nossas mais antigas cidades e mais da metade da nossa gente. Ora, aqui não cabe ingenuidade: uma divisão "econômica" do estado implicará numa fase seguinte à automática divisão territorial, o que somos terminantemente contra. Não esqueçamos que o vírus da divisão do estado ainda está presente nas conversas de parcela da classe política, sempre ávida por novos cargos e estruturas públicas de poder.
Um Mato Grosso GRANDE, dividido em dois ou três outros estados MENORES, implicaria numa quebra de nosso diferencial mercadológico, que é o fato de sermos um estado continental que ocupa o quinto lugar na economia brasileira e que caminha a passos largos para subir no ranking nacional, a partir da logística integrada de estradas, ferrovias e hidrovias. Há ainda que se considerar o novo "boom de desenvolvimento do estado", a partir da efetivação da exploração mineral em larga escala, e da abertura econômica futura para o restante da América do Sul e a saída para o oceano Pacífico e a Ásia. Importante destacar que tamanho econômico significa peso político para os necessários enfrentamentos e conquistas no conturbado e não bem resolvido "Pacto Federativo Brasileiro".
Uma divisão de Mato Grosso, com uma exclusão ferroviária de Cuiabá, Várzea Grande, Cáceres e muitas outras cidades históricas significa, na prática, que a região mais populosa será excluída do novo ou "novos modelos" de desenvolvimento do estado e do Brasil. O nortão ficará com a "economia competitiva", com a maior e melhor parte dos investimentos no transporte. Nós ficaremos com a economia empobrecida, com a logística do século passado, com as bilionárias despesas da Copa do Pantanal de 2014 e com todas as outras dívidas contraídas pelo velho estado. Para refrescar a memória, vale lembrar da divisão do estado na década de 70 e dos acordos não cumpridos pela União, como o ‘falecido" Programa de Desenvolvimento de Mato Grosso (Promat).
Sou cuiabana de coração… Tenho filhos e netos cuiabanos. Aqui descansam em paz meus queridos pais. Amo Cuiabá e quero o Trem aqui, em Cuiabá. Vamos à Luta!!
Serys Marli Slhessarenko foi deputada estadual e senadora da República por Mato Grosso pelo PT