Nenhuma surpresa nos trouxeram os noticiários políticos ao constatarem que o candidato à Ordem dos Advogados Maurício Aude enfrenta sérias dificuldades de articulação e também o candidato à vice na corrida municipal Francisco Faiad tropeça e é considerado saco de pancadas. Porque nós advogados definitivamente não apoiamos o uso político de nossa instituição de classe para atender objetivos políticos egoístas. Se o raciocínio era fazer da Ordem um trampolim, estão muito enganados.
Não conheço Maurício Aude. Todos os dias, vou ao Fórum e nunca fui cumprimentado pelo candidato da situação, talvez porque tenha chegado a um patamar tão alto que acredite ser dispensado do convívio dos iguais. Publicar na imprensa que costurou apoio político de grandes escritórios em nada contribui para uma campanha classista, onde a maioria dos eleitores é de jovens advogados como eu. Fica parecendo que o advogado humilde, simples, pobre não tem vez ali. É uma pena, mas elitizaram a Ordem dos Advogados, reservando-a para grandes bancas.
Fiquei constrangido ao ver uma tal "caravana" partindo para entregar máquinas no interior. Não chega a ser compra de voto, mas usam descaradamente a minha anuidade para fazer campanha e promover um candidato. Não quero mais receber os e-mail"s da OAB fazendo propaganda rasgada pro candidato da situação. Acho que minha anuidade não serve pra isso. É um absurdo usar a máquina e fico indignado com o descaramento. Já chega de aparecer apenas na campanha. Essa incoerência força a barra e o advogado não é sujeito a manipulações.
Como sou jovem, não acompanhei um longo histórico da OAB. Contaram alguns golpes políticos, rasteiras que desaguaram na atual composição política. Ali há muitos empregados de escritórios fortes que tomaram a Ordem e a aparelharam. Não há independência nenhuma para discutir assuntos delicados como política, quando um grande escritório é contratado a peso de outro para um político investigado. E nem tampouco há independência para contrariar o próprio chefe do advogado contratado pelo líder classista. Fatiaram e serviram a Ordem dos Advogados aos pedaços. E para essa refeição, a maioria ficou de fora.
Por isso que não foi surpresa nenhuma a ruína do projeto de poder que tem coloração partidária e pretensão pessoal. Nada poderia ser pior. Recentemente, li na Folha de São Paulo um desabafo de um grande jurista no mesmo sentido e me identifiquei. A Ordem dos Advogados serve à sociedade e à democracia e não a um grupo de grandes escritórios que se perpetuam no poder por mais de uma década. Já está na hora de mudar. É preciso mudar urgentemente essas práticas que estão contaminando a classe dos advogados que sempre foi apartidária e superior a tudo isso.
Reconheço que pode ter havido boas contribuições dessa turma, mas outros advogados precisam entrar para oxigenar o ambiente. É necessário outro olhar, outros projetos, uma oportunidade de mostrar que é possível fazer diferente. Espero que alguns que ainda estejam grudados na administração e comissões gritem por independência e venham somar conosco e que os jovens manifestem adesão maciça à renovação. Essa esperança está nas ruas, nos escritórios mais modestos, nos colegas do interior e acredito que, com humildade e honestidade, possamos ganhar. Não quero servir mais de trampolim para ninguém. Está na hora de mudar!
Marcelo Nogueira é advogado em Mato Grosso