sexta-feira, 26/abril/2024
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Muita fumaça para pouco fogo, eis o reflexo do descaso

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Uma de minhas paixões é corrida de rua e como amante desse esporte democrático, participei no último dia 12 de março passado de uma corrida noturna cuja concentração – largada e chegada – se deu na Arena Pantanal, colossal obra realizada para abrigar jogos da copa do mundo 2014 e, posteriormente ser cartão postal e local impulsionador do futebol e outros esportes matogrossense.

Ao chegar nas imediações da Arena, próximo ao estacionamento, já notei que algo ia de mal a pior e como era noite, aí que a “coisa” estava mais sinistra e de imediato me veio à mente inúmeras matérias veiculadas sobre o abandono e descaso com obra de tamanho envergadura. Pensei, se do lado de fora está assim, imagine como deve estar por dentro!

Quem tem ido ultimamente na Arena assistir jogos com pífios resultados de público e renda – para se ter ideia dia 13/03, houve rodada dupla pelo campeonato matogrossense de futebol e conforme divulgado no Boletim Financeiro nº 038 da Federação Matogrossense de Futebol, foram 572 pagantes, com arrecadação de R$ 13.815,00 e despesa total de R$ 19.940,17, portanto, prejuízo de R$ 6.125,17, e essa sina se repete com frequência – pode testemunhar de perto como essa praça esportiva está agonizando.

Pois conta com infiltrações no teto e no piso, banheiros que foram empregados materiais de primeira qualidade estão com torneiras e portas danificadas (grande parte em decorrência de vandalismo), sujeira, matagal, escuridão. Essas são apenas algumas das chagas externas da Arena. O abandono é tanto, ou quem não se lembra que até um cavalo da Polícia Militar morreu em razão de descarga elétrica ocorrida nas imediações.

Voltando à corrida. Parte do percurso passava pelo túnel onde se encontra os vestiários, sala de imprensa, zona mista e diversas outras salas onde são realizados os trabalhos administrativos do local. Pasmem leitores! Se a “coisa” não está bonita por fora, imaginem no profundo interior do calabouço.

Lá, vi com os próprios olhos (o pleonasmo foi proposital), centenas de acentos que seriam usados em setores das arquibancadas amontoados pelo chão, sendo corroídos pelo tempo e pelo calor infernal que faz lá em baixo, parece até que fizeram como os vagões do VLT, compraram em excesso.

Somado a isso, vi também portas de vidro quebradas, alguns veículos da Defesa Civil que pelo estado apresentado dificilmente tinham condições de rodar. Se existe infiltrações na parte visível, são muito mais na parte onde poucos tem acesso. Resumindo, se está sinistro fora (imediações e dentro), não queiram saber na parte “escura”, onde poucos enxergam.

O cidadão de bem fica cada vez mais indignado ao ler assuntos desse naipe, pois vê de um lado a argúcia das empreiteiras e de outro a morosidade do poder público em adotar medidas que realmente possam pôr um fim a essas sagacidades.

Como é notório, a Arena Pantanal ainda não foi recebida definitivamente pelo Estado, se passaram quase dois anos da realização da copa do mundo e o Estado fica com um disque-me-disque de que só receberá a obra quando a mesma estiver concluída.

A obra será mesmo concluída? Pois a Mendes Júnior, empresa responsável pela construção, pediu recuperação judicial na 1ª Vara Empresarial de Belo Horizonte, alegando dificuldade financeira, devido à instabilidade econômica do país. Para refrescar a memória, a Mendes Júnior é uma das empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato desencadeada pela Polícia Federal.

O governo de Mato Grosso notificou a empreiteira para que retomasse a obra. Esse prazo expirou dia 03 de março, mas até agora não se vê nenhum trabalhador na obra. A Mendes Júnior exige um aditivo de R$ 70 milhões para realizar os serviços de acabamento. O governo diz que não paga e se não recomeçar os trabalhos, acionará judicialmente a empreiteira.

Será apenas mais uma notificação judicial para a construtora, dentre tantas que possui. A pergunta que fica é, o governo terá força suficiente para obrigar a conclusão da Arena, ou será tão somente mais uma ação judicial não conclusa?

Uma alternativa, como já foi amplamente noticiado seria repassar a Arena para iniciativa privada. Mas pelo que temos visto, dificilmente isso vai acontecer pois nem mesmo outras Arenas em cidades onde o futebol é mais expressivo tem dado o retorno financeiro esperado para os concessionários.

A Arena só não está em completo abandono porque o governo do Estado tem promovido ações, mesmo que tímidas, no sentido de levar a população para seu entorno, com a apresentação de shows dos mais diversos gêneros bem como outras atividades culturais.

Enquanto isso, faço como meu amigo Marcos José, que vai à Arena com um olho aberto e outro fechado, o aberto fica na expectativa de ver melhoras na linda obra arquitetônica e o fechado para não ver tamanha sujeira, irresponsabilidade e descaso com a coisa pública. Mas espero quando nos encontrarmos novamente na Arena, estejamos com todos nossos olhos bem abertos.

Claiton Cavalcante – contador, Pós-graduado em Contabilidade Pública e Controladoria Governamental

 

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