Há exatamente um mês, Cuiabá amanhecia estampada para o país com os desdobramentos da quinta fase da Operação Ararath, desencadeada no dia 20 de maio pela Polícia Federal. Um forte aparato policial espalhado nos endereços mais nobres da Capital para o cumprimento de 70 mandados de busca e apreensão e mais dois pedidos de prisão expedidos contra o deputado estadual José Riva (PSD) e o ex-secretário de Estado, Eder Moraes, expôs figuras políticas e membros de poderes constituídos no suposto esquema para praticar crimes contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro.
Um mês depois, apenas Eder que continua preso na Papuda, e o ex-secretário-adjunto da Secretaria de Estado de Fazenda, Vivaldo Lopes, que deixou o cargo após a repercussão do caso, enfrentam na prática as consequências da operação, paralelamente às defesas. Os estragos da operação ainda são avaliados tanto no campo político – com a eleição que se aproxima – quanto na esfera judicial, que ainda não tem prazo para cumprir todo o trâmite processual, que pode terminar ou não na condenação dos envolvidos.
As investigações da PF e do Ministério Público Federal (MPF) respingam no governador Silval Barbosa (PMDB), no senador licenciado, Blairo Maggi (PR), cujos processos correm em segredo de Justiça no Supremo Tribunal Federal (STF). Além deles, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Sérgio Ricardo, e o promotor de Justiça, Marcos Regenold, foram alvo de mandados de busca e apreensão. Este último pediu afastamento do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) e o conselheiro solicitou férias por 20 dias.
Uma lista com nomes de promotores e procuradores foi encontrada entre os documentos apreendidos na casa do de Eder, ex-braço forte dos governos de Maggi e Silval. Pivô da operação, o empresário Junior Mendonça, dono das empresas Globo Fomento Mercantil, Comercial Amazônia Petróleo, foi o responsável por citar e confirmar os nomes de autoridades políticas e de representantes de poderes nos depoimentos, na condição de delator premiado.
Um deles foi o prefeito de Cuiabá, Mauro Mendes (PSB), que confirmou ter pedido empréstimo à empresa. Porém, nega qualquer triangulação com o exercício do mandato à frente da prefeitura de Cuiabá. Segundo as investigações, Mendonça concedeu empréstimos às pessoas físicas e jurídicas e auxiliou na ocultação da origem de recursos recebidos por empresas privadas.
Acusado de exercer influência nas gestões de Maggi e Silval, Eder continua detido no presídio da Papuda, em Brasília. Já o senador e o governador recorreram ao STF para anular as investigações, que apontaram a atuação de Moraes no âmbito estadual para conseguir empréstimos para pagamento de gastos de campanhas políticas e para outros fins.
Conforme o inquérito, o ex-secretário se serviu da instituição financeira informal operada por Junior Mendonça tanto como interlocutor da classe política mato-grossense quanto para fins próprios. A PF suspeita que Lopes tenha emprestado empresa de sua propriedade para receber depósitos avaliados pelo ex-secretário. As operações são consideradas clandestinas por não ter regulamentação junto ao Banco Central do Brasil.