Volta o ENEM para 271 mil adolescentes que foram impedidos de fazer a prova pelos invasores de escolas. Estão todos na mesma faixa de idade, em geral nascidos já no século 21. (Eu escrevi em algarismo arábico, porque em romano poderia complicar a leitura…) Os nascidos na virada do milênio têm sido classificados como millenials pelos que estudam gerações, como a dos baby boomers e gerações X, Y, Z. Os nascidos depois de 1980 são 60 milhões no Brasil. Superam em número a população inteira do Brasil quando nasci, em 1940, em plena 2ª Guerra Mundial. Sou da geração pré-baby boomer. Não havia televisão nem computador pessoal, nem celular. E a vida era mais desfrutada. Pensávamos mais, refletíamos mais, imaginávamos mais.
Segundo sociólogos, a geração millenial é tida como preguiçosa, menos ativa, que acredita que o sucesso virá fácil, mais cedo e sem esforço. Os pais contribuíram para isso, afastando dos filhos todas as dificuldades. Seriam mais alienados, porque se concentram em si próprios, como demonstra o vício do selfie narcisista, que revela a necessidade de exibicionismo. Sempre conectados, perdem a visão do todo, perdendo a consciência social, e isso os impede de conhecer coisas novas, já que a conexão permanente só os liga a temas de seu interesse, não abrindo portas e janelas para aprender o que não sabem, nem abre oportunidades para refletir. Segundo o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, essa geração apresenta o transtorno de personalidade narcisista três vezes mais que alguém com mais de 65 anos.
Essa geração impede a entrada daquilo que a perturba ou não a agrada. Assim, faz censura e só participa, nas redes sociais e na internet, do que dá importância. Então, se fecha nesse seu mundo personalizado, customizado, e não amadurece. Para amadurecer, todos sabemos, é preciso buscar contribuições daquilo e daqueles que nos são diferentes, ou nada acrescentamos ao que já temos no nosso pequeno mundo pessoal. O desconforto, a contrariedade, o desafio, a negação, são essenciais para o amadurecimento. Essa geração nunca teve tanta informação ao alcance fácil do dedo. Minha geração precisava até de força física para tirar a enciclopédia da prateleira e de muito tempo para debater conceitos com amigos, no banco da praça de domingo, na minha adolescência. E fazíamos sátiras de peças de Shakespeare(será que hoje conhecem o Bardo?). E o problema de hoje é a resposta à pergunta feita pelo professor do Instituto de Psiquiatria da USP, doutor Cristiano Nabuco de Abreu: “Está a informação se transformando em conhecimento?”
Há dias, recebi dois quadrinhos numa charge. O primeiro mostra a mãe puxando o filho para dentro de casa e o obrigando a deixar a bola. O segundo, mostra a mãe a empurrar o filho para fora de casa e ainda assim ele sai abraçado ao smartphone. É o ontem e o hoje. Tempo perdido? Só as próximas décadas vão mostrar, comparando a geração do milênio com as anteriores. Com esse vácuo criado pelo paradoxo de muita informação versus pouco conhecimento, professores catequistas de Gramsci aproveitam-se para freudianamente compensar todos os fracassos que o marxismo sofreu no planeta, na tentativa de recriar uma geração submissa pela ausência de reflexão, como aconteceu com as juventudes hitlerista e stalinista, quando eu nasci.