quinta-feira, 28/março/2024
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O salvador da Pátria

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Alunos de Economia da Universidade de Brasília estão fazendo um teste de honestidade entre os universitários. Puseram um balcão de venda de picolé self-service, com um cofrinho para depositar o dinheiro da compra, sem vendedor ou fiscalização. A dois metros, um cartaz alerta que é um teste de honestidade. Ainda assim, 34% dos picolés têm sido roubados. Isso num campus universitário, gerador de luzes, e num meio que é elite intelectual da juventude da capital. Um em cada três estudantes não é honesto, tem sido a conclusão dos promotores do teste. O resultado seria ainda pior se não houvesse aviso nas proximidades. Os organizadores devem ter se inspirado na venda de jornais em países civilizados, em que ninguém fica a cuidar: a pessoa leva o jornal e deixa o dinheiro. Ou como no metro de Viena, em que não há obstáculo para embarcar ou desembarcar; apenas o pressuposto de que a pessoa adquiriu a passagem.

Isso talvez explique porque tantos corruptos são eleitos: os desonestos por formação, por índole, sentem afinidade em relação a candidatos ficha-suja. Não é o caso de serem enganados pela propaganda, porque têm as luzes da universidade. Sei, os partidos não dão opções melhores. Olhem só os que elegemos e estão envolvidos na Lava-Jato. Há os que estão envolvidos e os que ainda serão descobertos. Os partidos parece que não têm escolha; os bons não querem e aí viram candidatos os aventureiros e corruptos. É uma multidão de 35 partidos representados no Congresso, a que vão se somar outros 23 em formação. Sem doutrina, sem ideologia, só com fisiologia e os mesmos princípios demagógicos de salvação nacional, papagaiados no ridículo dos programas eleitorais obrigatórios.

Na prática, o círculo vicioso é assim: o partido escolhe quem tem mais popularidade – pede ser um jogador de futebol, um sertanejo, um apresentador. Aí, vai atrás de dinheiro para a campanha. As empreiteiras da propina estão prontas para superfaturar sobre empresas estatais e eleger políticos de qualquer partido para defenderem seus interesses no legislativo. Com dinheiro, partidos contratam marqueteiros para enganar o eleitor. Eleitos, descobrem-se depois suas falcatruas. O dinheiro abundante também serve para pagar os melhores advogados de porta-de-cadeia e garantir-lhes a impunidade da imunidade. Aí, podem começar a segunda volta do círculo vicioso, arranjando mais dinheiro para se reelegerem e começar tudo de novo. O povo, alienado pelo futebol, os elege e reelege, e paga os impostos que os sustentam e fica sem saúde, educação, segurança, Justiça, e uma infraestrutura recém qualificada pelo Banco Mundial como “deplorável”. 

– Precisamos de um Salvador da Pátria! – dizem muitos. Já ouvi isso e já vi elegerem salvadores. Eleitor de 19 anos, dei meu primeiro voto a um deles, Jânio Quadros. E ainda vi elegerem Fernando Collor e Lula como salvadores. Foram um fiasco. Dutra e Itamar não eram salvadores mas fizeram governo honesto. Itamar Franco chegou a acabar com a inflação, que Lula e Dilma trouxeram de volta. No governo FHC começaram os “direitos humanos” que fizeram a festa da bandidagem e a tragédia da segurança pública. Agora clamamos por um salvador da Pátria. Não precisaríamos se fôssemos 200 milhões de salvadores da Pátria. Sem nos furtarmos de pagar o picolé.

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