sábado, 20/abril/2024
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O dia seguinte

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No domingo, encheu de gente o principal logradouro de centenas de cidades brasileiras. Desta vez, com o objetivo mais centralizado: a saída de Dilma da Presidência e a saída do poder por parte de Lula e seu PT. Um herói foi consagrado pelas multidões: o juiz federal Sérgio Moro. Nenhum político e nenhum partido foram apresentados como alternativa, embora tucanos tenham metido o bico nas manifestações de São Paulo, Belo Horizonte e Brasília. Voz do povo, voz de Deus, a sabedoria popular antes mesmo de julgamentos em tribunais ou no Senado, já apresentou o veredicto de culpados contra aqueles que destruíram o país nos últimos anos e desprezaram as leis e os valores morais.
    
Parece ter sido profético o título de meu artigo da semana passada, Panelas e Fuzis. Não é que no dia 13, em plena sede do governo e na cara da presidente, o senhor presidente da CUT ameaça com armas na mão e trincheiras para defender a presidente? Deve ter ouvido a Marselhesa sem ter entendido e nunca deve ter lido a Constituição Brasileira. E a presidente, omissa, não interrompeu o orador para afirmar, como Comandante Suprema, que as Forças armadas dispensam guerrilhas, rèsistences, partigiani,  ou brigadas bolivarianas, porque estão atentas em seus deveres constitucionais de defesa da Pátria, da lei, da ordem e das instituições. Ou será que ela ficou perplexa como Bush, quando recebeu a notícia da derrubada das torres? Pelo menos não parafraseou João Goulart, em outro dia 13: “na lei ou na marra”.

No domingo, a presidente apenas assistiu. Não acusou os manifestantes de golpistas. Uma estadista na presidência iria no dia seguinte ao rádio e à TV pedir desculpas pelos erros cometidos em quatro anos e pelas promessas vazias na campanha da reeleição. Pediria um voto de confiança até o fim do ano para corrigir os erros, enxugar o gigantesco governo, mostrar que gasta menos e aproveitaria para aplaudir de pé o que está sendo feito contra a corrupção pela Polícia Federal, o Ministério Público e a Justiça. Para isso, a humildade teria que vencer a arrogância. Pior é jogar-se nos braços de Renan Calheiros e sua agenda de 43 pontos, para defender-se da pauta-bomba de Eduardo Cunha. Dar as costas para o PT e entregar-se ao PMDB de Renan, Sarney, Jáder e Jucá vai significar para os manifestantes de domingo apenas a troca de seis por meia-dúzia.
    
As ruas de domingo foram muito representativas de uma classe média que paga muito imposto, que acompanha o noticiário, que se preocupa mais com a política que com o futebol. Os que foram às ruas não tiveram condução gratuita, ajuda da Caixa Econômica, do BNDES ou da Itaipu Binacional, como foi a última marcha vinda a Brasilia de ônibus e avião para apoiar o governo. No último domingo, ninguém ganhou lanche nem camisa e chapéu. As ruas de domingo não se constituíram de claque subvencionada com dinheiro que veio do trabalho de todos. Mesmo assim, lotaram a Avenida Paulista tal como a Parada Gay ou a Evangélica. Basta comparar as fotos. E mobilizaram o país pela internet. Ainda existe aquela cidadania civilizada que tirou Collor sem quartelada nem quebra-quebra. Na lei e na ordem.

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