Recebi de dois amigos um vídeo que dizem se passa em uma escola de Mato Grosso. Não sei se foi lá nem sei quando, mas o certo é que está bem audível a reprimenda que dois homens fazem a 17 alunos, adolescentes, postos de joelhos e cabisbaixos, enquanto ouvem a ameaça: “Hoje em dia a polícia não resolve mais nada, quem resolve é o Comando”. E outro completa: “Nóis é do CMT e tá dando um alerta; se tiver que vir pela segunda vez, vai ser no pau. Se pegar vocês fumando bagulho, vamos quebrar vocês no pau.” E avisam que se o guardinha avisar que estão fumando de novo, vai “ser daquele jeitão”. Inclusive se forem pegos com maconha na rua. E alertam que na escola há alunos com necessidades especiais e filhos de presos, que precisam ser respeidos.
Imagine se um professor pusesse de joelhos alunos fumadores de maconha na escola. O professor seria destituído, talvez preso, e apanharia dos alunos. O politicamente correto enfraqueceu a disciplina e com ela o professor. A droga invade escolas e, no caso, foi preciso pedir a proteção de traficantes, que impõem a disciplina do modo que alunos entendem. E eles avisam que estão com o guardinha e com a diretora. E eu vos digo: as diretoras que tentaram impor disciplina em suas escolas foram denunciadas por pais, foram expostas na mídia e acabaram desiludidas com a missão que escolheram por vocação. No caso do vídeo, o pessoal do tal Comando está à frente do politicamente correto no trato com droga – incrível!
Em Brasília, o legislativo local acaba de derrubar veto do governador contra a lei que cria a disciplina de moral e cívica nas escolas do Distrito Federal. O governador, certamente, ainda tem a síndrome do governo militar. Só que a matéria não é dos militares. Quando frequentei a escola pública, o grupo escolar, no primário, entre 1947 e 1951, tínhamos, em Estudos Sociais, o ensino da cidadania, da estrutura do estado brasileiro, das funções dos três poderes, os direitos e deveres do cidadão; aos sábados, tínhamos hora cívica, em que hasteávamos a bandeira cantando o Hino Nacional e depois líamos textos e poesias referentes aos vultos e episódios da História do Brasil comemorados na semana que findava. Ao final, arriávamos a bandeira cantando o Hino à Bandeira. E aprendíamos a interpretar textos, a fazer frases, a escrever trechos ditados, com a consciência de que a Língua Portuguesa é um dos patrimônios da nacionalidade.
Mais do que isso, antes de entrarmos no ensino fundamental e durante nossa infância, recebíamos em casa a educação de não mentir, de respeitar as leis e os outros, de respeitar o patrimônio público, de nos comportarmos em público com a educação recebida em casa. Eram tempos em que não havia droga “recreativa” – sabíamos que toda droga faz mal -, as brincadeiras não eram chamadas de “bullying”, meninos e meninas eram meninos e meninas; os namoricos precoces não eram “assédio” e os professores não tinham medo de ser processados quando caíamos de árvores ou de telhados. E nós tínhamos medo e respeito dos professores. Chegamos até aqui – com as exceções normais – ordeiros, disciplinados, felizes, vividos e, creio, bons cidadãos.